A Lenda da Cigana contada em Vacaria virará um filme: Conversamos com a equipe de produção do curta-metragem
sexta-feira, agosto 09, 2024
A nossa sociedade, desde o início dos tempos, sempre usou das lendas para explicar aquilo que nem sempre tem uma explicação lógica. As Lendas são narrativas transmitidas oralmente pelas pessoas com o objetivo de explicar acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais.
Aqui em Vacaria, não é diferente. A lenda mais famosa envolve
o maior evento da tradição - o Rodeio Crioulo Internacional de Vacaria - e uma
cigana.
A Lenda da Cigana, contada em Vacaria, é que uma cigana pediu
um copo de água em acampamento na época do Rodeio, porém, foi negado o copo de
água para matar a sede da cigana. Após a negativa, a cigana teria dito “se for
falta de água, nunca há mais de faltar” e a partir daquele monento não parou
mais de chover até fim daquele rodeio. Desde então, em todo Rodeio de Vacaria
sempre chove, nunca falha. Já são 35 edições do rodeio e em quase todos sempre
acaba chovendo.
É por isso que a Lenda da Cigana continua tão forte nos dias
atuais. Não se sabe em que época o fato ocorreu, a lenda é forma plausível para
explicar esse fato peculiar do Rodeio de Vacaria.
A Lenda da Cigana já virou letra na voz do cantor nativista Cristiano Quevedo, que participou do 9º Festival Cante Uma Canção em Vacaria, o qual aconteceu em 30º Rodeio Crioulo Internacional de Vacaria, em 2014.
Agora, A Lenda da Cigana de Vacaria ganha novamente destaque
com curta-metragem do mesmo nome que irá contar essa lenda de uma forma
diferente. Reunindo fatos e depoimentos e com direito a encenação para mostrar
o lado da cigana na lenda.
O Repórter Riograndense conversou com a equipe de produção do
filme, a atriz Joana Casagrande, que interpreta a cigana, e com diretor e
roteirista André Artreche, sobre os bastidores e a produção do filme.
Joana Casagrande é atriz formada pela Cal – Casa das Artes de Laranjeiras, já participou da novela "Cobras e Lagartos" da Rede Globo em 2006, produziu o espetáculo autoral Desarrumada em 2012 no Rio
de Janeiro e em 2020 em Vacaria. Atualmente ministra aulas de teatro e
campanhas publicitárias e institucionais para empresas nas cidades da Serra Gaúcha.
Joana Casagrande como a protagonista do curta-metragem "A Lenda da Cigana"
André Arteche é ator, diretor, dramaturgo gaúcho
pós-graduado em direção teatral. Seu primeiro espetáculo como autor e diretor
foi “A Lenda do Sabiá”. Participou de produções da Rede Globo nas novelas "Ti,Ti,Ti", "Caminhos da Índias" e "Lado a Lado". No cinema foi protagonista do filme "O Senhor
das Guerras" de 2017, obra de Tabajara Ruas. Também toca piano desde os seis anos,
além de violão e acordeom.
André Arteche, diretor e roteirista do filme "A Lenda da Cigana" |
Como surgiu a ideia de fazer o curta-metragem sobre a Lenda
da Cigana?
André: A Joana
me contou a sobre a lenda. É uma história muito tradicional e famosa
aqui em Vacaria. Ela viu que tinha material dramático para contar essa história
e primeiramente no palco fazer um espetáculo musical, uma peça. Mas quando viu
que o edital da Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar nº 195/2022) também poderia
transformar essa história em um filme. Escrevi o roteiro, com a Joana me dando
as diretrizes, pesquisando bastante sobre a lenda. Ganhamos o edital e então
surgiu o nosso curta-metragem. É um curta-metragem, o filme
deve ter aproximadamente 15 minutos. Vamos cumprir essa minutagem
padrão.
Qual foi o andamento das filmagens?
André: A gravação do filme foi feita em três dias (23 a 25 julho de 2024) devido as condições climáticas e agenda da equipe. O
curta envolveu muita gente, como o acampamento campeiro, acampamento cigano.
Mobilizar todas essas pessoas nesse período é bem difícil. Foram dois dias de
gravação com diárias bem intensas tanto diurnas como noturnas e ainda ocupamos
a manhã do terceiro dia para finalizar as filmagens.
Qual foi a sua inspiração para dar vida a cigana?
Joana: Quando eu idealizei a ideia do projeto, eu já me imaginei como cigana.
Graças ao André, como diretor e roteirista, conseguimos trabalhar essa personagem. Fomos colegas de formação no Rio de Janeiro (Cal – Casa
das Artes de Laranjeiras) Hoje ele é meu professor de teatro. Há três anos tenho esse projeto em mente, todo o trabalho de
pesquisa, e um roteiro de texto monologo
para teatro que já havíamos feitos facilitou para desenvolver essa personagem. Trouxemos
informações de pesquisas da vida cigana e qual história poderíamos dar para
essa mulher e trazer à tela de cinema.
Como foi montar o roteiro do filme?
André: Como todas lendas despertam muitas versões, fomos recolhendo
informações e montamos a nossa versão. Tem o princípio básico da cigana
chegando no rodeio e pedindo um copo de água e que não recebe para matar a
sede. Em momento de fúria ela joga uma praga e começa a chover. A nossa ideia foi
transpor para tempos atuais, nessa relação do homem, nesse caso a mulher, com a
natureza. Quais são nossas ações, nossos gestos que podem transformar o momento
que vivemos de tensão climática, chuvas impiedosas atingindo as comunidades
rurais e também no perímetro urbano. Procuramos conectar a lenda com os valores
e as noções que despertam alguma reflexão nos tempos atuais.
Já tem uma data para o lançamento do filme?
André: A nossa ideia é lançar no segundo semestre deste ano, entre outubro ou
novembro. Já começamos o processo de edição, a gravação da composição musical
em estúdio que será feito pelo Pirisca Grecco, a trilha sonora pelo Uiliam Michelom. Estamos com uma equipe capacitada.
Quais são os próximos passos após o lançamento?
André: A nossa ideia é inscrever o filme em festivais. Fizemos o
curta-metragem com a maior qualidade possível para concorrer e fazer a história
da lenda da cigana chegar em vários festivais pelo Brasil e na América Latina.
Estamos nos apropriando da forma mais correta para fazermos isso, de quantos
filmes inéditos esses festivais precisam, inclusive o Festival de Gramado.
Depois de estrear nos principais festivais ou um pouco antes as pessoas tenham
acesso ao filme na página da Prefeitura, inclusive
é um dos requisitos da Lei Paulo Gustavo e também nas redes sociais. Como
curta-metragem vamos fazer uma pré estreia aqui em Vacaria mobilizando todas as
pessoas que nos apoiaram e a partir disso o curta ser inscrito nos festivais e
exibições em cinemas.
Como foi a experiência de fazer a personagem?
Joana: Como proponente do projeto foram mais de 90 dias diretamente envolvida
na produção. O apoio da família e amigos foi fundamental. Como atriz é uma
realização voltar para minha cidade e desenvolver uma personagem tão
pertencente a essa comunidade. Poder representa-la é motivo de orgulho.
Imaginava que “A lenda da cigana de Vacaria” tivesse uma repercussão na cidade,
mas não dimensionei o quanto elas se engajariam nesse projeto. Nosso set de
filmagem, segundo nosso diretor André Areche, não perdeu em nada para uma
produção de cinema profissional (obviamente em proporção menor). Ao todo dez
empresas patrocinaram sendo fundamentais para garantir uma produção áudio
visual plausível completaram os recursos necessários para realizar nosso filme
de curta metragem. Reunir o Andre, Pirisca, Uilliam, Tita, jovens aspirantes do
áudio visual, atores profissionais e amadores, reunir antigas amizades fazer novos
amigos e trabalhar com colegas de teatro que vivem por aqui foi magico.
Estivemos juntos ensinando e aprendendo a fazer arte, e esse sempre foi meu
desejo. Espero muito que as pessoas gostem.
Para conhecermos os bastidores e empresas parceiras do projeto,
sigam o perfil @lendacigana no Instagram.
Como foi montar a história baseados nos relatos e de fatos
históricos?
André: Tem muitas histórias de ciganas, uma pessoa da equipe, o Rafael, ele é
historiador. Fomos ao museu de Vacaria e conversamos com pessoas daqui
comunidade que conhecem a lenda. Há teorias que a história é real, há teorias
que é simplesmente uma lenda. Há divergências sobre a época que isso realmente
aconteceu. Também conversamos com pessoas da própria comunidade cigana e nos
passaram informações a respeito do dia a dia deles que procuramos retratar na
tela.
Qual será o enredo da história?
André: Nos colocamos a história de maneira atemporal. A gente não localiza em
tempo se passa a história. Têm elementos um pouco mais contemporâneo, por
exemplo, um personagem que fala com microfone e também com elementos muito
rústicos, totalmente atemporais. Como é uma lenda a gente localizou num tempo
imemorial não tendo a dimensão de quando acontece o evento, mas entendermos que
é uma mistura. A característica principal da lenda acontece e se repete
eternamente, pois ela é contada. Então não localizamos em uma data específica.
Existem outros projetos após o lançamento do filme?
●
André: Já
temos outros projetos, algumas ideias de usar elementos da cultura folclórica
gaúcha. Pegando vários autores regionalistas tem características jornalísticas
desde Simões Lopes Neto, que a gente estuda no colégio, passando por Érico
Veríssimo, com o próprio Tabajara Ruas, vamos encontrar muitos elementos
mitológicos que não precisam contar a história em si, mas podemos inserir esses
elementos em histórias um pouco mais cotidianas.
Confira a seguir algumas fotos dos bastidores da filmagem:
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