Coleta de esgoto e água pluvial – #tudojuntoemisturado – é uma opção para Vacaria?

quarta-feira, novembro 29, 2017



O saneamento básico é uma preocupação da gestão pública de qualquer município. Em Vacaria, percebeu-se avanços importantes nos últimos anos, como a implantação de aterro sanitário, coleta seletiva e logística reversa de lâmpadas e eletroeletrônicos. Porém a questão da coleta de esgotos residenciais preocupa a população. Há anos, é triste a realidade de dejetos sendo liberados ao ar livre, contaminando os córregos que cortam a cidade, trazendo inúmeros inconvenientes.

Muitas discussões sobre o tema estão acontecendo, utilizando-se de meios como as redes sociais, onde cada um tem voz e vez, podendo apresentar suas opiniões e conceitos. Entretanto, a questão da coleta de esgoto não pode se basear apenas em opções apresentadas por páginas sobre “água” sediadas no Facebook. Não há um único caminho, cada um apresentando seus prós e contras. Para auxiliar na apresentação das alternativas, contamos com o apoio do Engenheiro Civil João Paulo Maciel de Abreu, que gentilmente colaborou conosco esclarecendo dúvidas para esta postagem.

Arroio de Vacaria/RS
 Imagem: Reprodução / Rádio Esmeralda


Atualmente, todas as residências do município, já durante os processos de regularização de imóvel, são obrigadas por Lei a dispor de sistemas de tratamento primário e secundário – fossa séptica e filtro. A disposição final, por sua vez, não ocorre no próprio terreno. Ao invés de sumidouros, as instalações residenciais devem conectar seus filtros ao sistema público.

Este sistema público de coleta abrange tanto a admissão de dejetos residenciais como de águas pluviais (advindas das residências e de logradouros públicos). A união de esgotos e águas pluviais deve ocorrer apenas na ligação ao sistema público de coleta, pois a movimentação causada por águas pluviais pode atrapalhar o trabalho do tanque séptico como primeiro tratamento de redução de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio).

No sistema existente em Vacaria, há a coleta dos dejetos e águas pluviais, porém os mesmos não passam por tratamento. Espera-se, por inúmeros motivos, que uma estação venha a ser instalada em nosso município, a fim de garantir destinação adequada a esses despejos.

Dentro de um sistema que abranja coleta e tratamento, podem existir três tipos básicos, quais sejam: sistema unitário (coleta única, num mesmo duto, de águas pluviais diversas e esgotos), separador parcial (coleta em mesmo duto de águas pluviais residenciais e de esgotos) e separador absoluto (coletas em separado de toda a sorte de águas pluviais e de esgotos residenciais). A escolha por um ou outro tipo depende de vários requisitos técnicos.

Em Vacaria, pode-se pensar em duas opções básicas, que seriam a do sistema unitário e do separador absoluto, ambas com prós e contras. A opção pelo sistema unitário não demandaria por extensas obras na rede de coleta, exigindo, porém, a conexão a uma estação de tratamento de esgotos, a ser construída. Traria menos transtornos optar pelo sistema unitário, pois não seria necessária a realização de obras em todo o perímetro urbano para adequar a rede de coleta.

O sistema unitário é o mais usado na Europa. Porém, há uma diferença básica entre a realidade europeia e a brasileira: a proporção entre vazões de esgoto e água pluvial, e a diferença entre períodos secos e chuvosos. O Brasil é um país com pluviosidade elevada, o que leva a vazões pluviais consideráveis, diferentemente do que ocorre no cenário europeu. Por lá, em função da pequena parcela que a vazão pluvial representa, prefere-se não criar uma rede exclusiva para cada vazão.

Dessa forma, não seria inadequado pensar em instalar um sistema unitário em Vacaria. Haveria o ponto forte de manter intacto o sistema de coleta, mas haveria um volume maior de águas a tratar em uma estação de tratamento de esgotos, sendo uma estrutura mais robusta.

A opção pelo sistema separador absoluto, por sua vez, exigiria adequação da rede coletora e das ligações residenciais. Por outro lado, demandaria uma estação menos robusta, para atender volumes inferiores.

Como se observa, seria necessário pesar, por meio de estudos de Engenharia, qual das duas opções se apresentaria mais benéfica do ponto de vista econômico. Também é preciso estar atento ao bem-estar da população e de possíveis transtornos que podem decorrer da instalação de um sistema completamente novo, a fim de chegar à melhor solução. A população pode (e deve ser ouvida) durante o processo de escolha, mas deve receber os devidos esclarecimentos sobre os diferentes tipos de coleta.

APROCHEGUE E CONFIRA

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