José Mendes

quinta-feira, novembro 29, 2018


Cantor e compositor, José Mendes nasceu na localidade de Machadinho, no município gaúcho de Lagoa Vermelha em 20 de abril de 1939, mas foi registrado em Vacaria. Com a separação dos pais, mudou-se para a cidade de Santa Terezinha, no distrito de Esmeralda, em 1944, passando a residir com pais adotivos.


Viveu em Santa Terezinha durante 14 anos, período no qual trabalhou como peão de estância e começou a fazer suas primeiras serenatas.


Começou a se interessar pela música aos 14 anos, formando pouco depois, com um amigo, uma dupla amadora chamada "Os Irmãos Teixeira".

Foto: Ouvirmusica.com.br


Em 1958, foi prestar o serviço militar e mudou então para a cidade de Vacaria, onde se fixaria depois do serviço militar, decidindo, então, seguir a carreira artística.


Iniciou a carreira artística em 1960, quando se mudou para a cidade de Júlio de Castilhos, onde formou o trio Os Seresteiros do Pampa.


Em 1962, depois de excursionar pelo nordeste do Rio Grande do Sul e por algumas cidades de Santa Catarina, decidiu que era hora de gravar um disco, ou abandonar a carreira. Pediu dinheiro emprestado ao fazendeiro Irineu Nery da Luz, que lhe cedeu a quantia de 20 mil cruzeiros, para viajar até São Paulo. Na capital paulista, dormiu vários dias em bancos da rodoviária, alimentando-se de pão e banana.


Utilizando o nome artístico de Gaúcho Seresteiro, gravou o LP "Passeando de pago em pago", uma autêntica crônica de suas viagens pelo Rio Grande do Sul.


Nesse disco, gravou doze composições, todas de sua autoria, mas que acabaram aparecendo com diferentes parceiros, todos radialistas: a música título, com Sebastião Ferreira da Silva, "Roubei a fazendeira", com Carlos Armando, "Cantando ao luar", com Nino Silva, "Porteira do Rio Grande", com Teixeira Filho, "Não sou culpado", com José Teixeira, "Saudades de Júlio de Castilhos", com Leonel da Cruz, "Excursão catarinense", com Sertãozinho, "Sou do Rio Grande", com Milton Gomes, "Capital gaúcha", com Domingos de Palo, "Gaúcho gaudério", com Zé Tomé, "Sem teu amor", com Carlos Armando, e "Cruzaltense", com Coronel Narcizinho.

Depois da gravação do disco, retornou para a cidade gaúcha de Vacaria e, logo em seguida, mudou-se para a cidade de Porto Alegre, onde chegou a dormir dentro de carros em uma garagem na qual trabalhava um amigo.

Certificado de reservista de José Mendes. Foto: Mateus Rosa



Começou a fazer apresentações em cidades do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, a fim de divulgar o disco, fazendo isso por cinco anos.

Nesse período, participou de várias caravanas artísticas ao lado de nomes como Airton Pimentel, Os Araganos, Velho Mirongueiro, Os Mirins, Luiz Mullher, Portela Delavy, e as duplas Milton e Almerinda e Xará e Timbaúva, entre outros.

Numa dessas viagens, em companhia de Portela Delavy e Luís Muller, ocorreu um episódio que mudaria sua vida. Viajavam de kombi para a realização de um show, quando o carro quebrou e tiveram que pegar um ônibus.

A certa altura dois peões começaram a discutir até que um deles, para terminar o assunto falou: "Pára Pedro", e tornou a repetir "Pedro, pára". Estava dado o mote para ele e Delavy comporem o xote "Pára, Pedro".


A música foi apresentada primeiramente no programa radiofônico "Grande Rodeio Coringa" causando grande impacto, recebendo o incentivo de todos para que a gravasse.

Em 1967, voltou a São Paulo, a fim de gravar seu segundo disco. Foi recusado pela Continental e pela Chantecler, até que a gravadora Copacabana resolveu lançar "Pára Pedro" em compacto simples.

O disco tornou-se rapidamente um grande sucesso nacional e internacional, sendo regravado em diversos gêneros, por diferentes cantores na América Latina. O compacto vendeu mais de 600 mil cópias e se tornou o disco mais vendido do ano, o que lhe valeu da TV Gaúcha o "Troféu de Consagração popular".

Chapéu e gaita-ponto de José Mendes. Foto: Mateus Rosa


Na época, uma reportagem da revista "O Cruzeiro" dava conta da enorme popularidade alcançada por ele: "Ligue o rádio e ouça. Esteja você em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Recife, Porto Velho ou no Acre". E até atravessando fronteiras, na Argentina, Uruguai ou Bolívia.


No mesmo ano, lançou o LP "Pára Pedro" que, além da música título, tinha ainda as composições "Picaço velho", "Surpresa da vida" e "Mensagem de saudade", de sua autoria e mais, "Mulher feia", com Noel Silveira, "Canto da siriema", com Leonel dos Santos, "Valsa do adeus", com Ney Fernandes, "Terra brasileira", com Luis Muller, e "Corações amantes", com Milongueiro, além de "Saudades de Lagoa Vermelha", de Elyo Theodoro, e " Terra que canto" e "Última lembrança", de Luis Menezes.


No bar, no cabelereiro, em casa, no escritório ou à saída da missa, todos assobiam e cantarolam a história do Pedro que entrou numa festa lá na fazenda da Ramada. Todos querem imitar a velha apaixonada, no Pára Pedro! Pedro, pára!".


Em 1968, lançou, também pela Copacabana, o LP "Não aperta, Aparício", com música título de sua autoria e mais "Laços de Saudade" e "Não Chores Chinoca", de sua autoria, "Saudades de Vacaria", com Paulo Finger, "Vai embora tristeza", com Oiram Santos, "Pedras no caminho", com Cláudio Paraíba, e "Esmeralda", com Airton Pimentel, além de "O pranto dos meus olhos", de J. Pereira Jr.e Néco, "Pequena paisagem de amor", de Zaé Jr. e Theotonio Pavão, "Adeus Bragança", de Geraldo Nunes, e "Gaudério", de Luis Muller e Antoninho Duarte.


Ainda nesse ano visitou o Rio de Janeiro e apresentou-se no "Programa do Chacrinha". Também em 1968, participou da coletânea "Carnaval Copacabana", que contou as presenças de diversos artistas como Ângela Maria, Gilberto Alves, Carequinha, e Roberto Silva, interpretando "Pedro no carnaval", de sua autoria e "Maria Antonieta", parceria com Paulo Finger.

Revólver de José Mendes. Foto: Mateus Rosa


Em 1969, atuou no filme "Pára, Pedro!", baseado em sua música, filmado pela produtora Leopoldis-Som, com roteiro de Antônio Augusto Fagundes e direção de Pereira Dias, sendo esse, o primeiro longa-metragem colorido produzido no Rio Grande do Sul. O filme foi grande sucesso, permanecendo em cartaz por 23 semanas no Rio Grande do Sul, antes de ser lançado no Rio de Janeiro.


Ainda em 1969, lançou pela Copacabana seu quarto LP, "Andarengo", disco no qual interpretou a música título e "Valsa das mães" , parcerias com Antônio Augusto Fagundes, "Uma aventura a mais", com Leonardo,
"Vá embora tristeza", com Oiram Santos, " Couringando" e "Fronteira que não faz fronteira", com Airton Pimentel, "Hei de amar-te até morrer", "Para amar não tem distância", e "Nasci para você", de sua autoria, além de "Parabéns", de Dimas Costa, "Brasileiro meu irmão", de Antônio Augusto Fagundes, e "Comadre Chica", de Otávio Pereira Rodrigues e Cláudio Lima.


Também em 1969, atuou no filme "Não aperta Aparício", baseado na sua música homônima, filme também com direção de Pereira Dias e que contou, entre outros, com as participações de Grande Otelo e José Lewgoy, sendo também um grande sucesso.


Em 1970, desfrutando de intensa popularidade, fez shows em quase todas as cidades gaúchas, além de se apresentar em Santa Catarina, Paraná, Amazonas, São Paulo e Rio de Janeiro.


Nesse ano, tornou-se, juntamente com o cantor Altemar Dutra, o artista brasileiro com disco mais tocado em Portugal.


Foi convidado para desfilar na Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, saindo como destaque ao lado de Martinho da Vila no enredo "Glórias gaúchas".

Ainda nesse ano, lançou o LP "Mocinho do cinema gaúcho" cantando "História dos Pedros", "Acordeona do Nego Mendes" e "Gaúcho aventureiro", de sua autoria, "Palmeira das Missões", com Odalgiro Correia, "Roubei a fazendeira", com Carlos Armando, "Cantando minha palmeira", com Odalgiro Correia, "Três flores", com Nonô Basílio, "Quero beijar-te agora", de Gilberto Nedel e J. Martins, "Não espalha", de Airton Pimentel, "Moda de agora", de Senair Maicá e Gaúcho do Rincão, "Sangue criolo", de Lauro Rodrigues, e "Largo da felicidade", de Rubens Alcântara.


Suas músicas foram tocadas a partir de Portugal, na Áustria, Suécia, Suiça e Bélgica.

Em 1971, gravou o LP "Gauchadas" com sete composições de sua autoria: "Churrasco", com Luis Muller, "As coisas do meu rincão", "Conversa fiada", "Rodeio de Vacaria", "Minha acordeona", "Ciganinha", e "Lágrimas do adeus", além de "Roubo da gaita velha" e "Baile do Rancho", de Nilda Beatriz de Castro, "Três companheiros", de José Batista, "Palavra triste", de Oscar de Almeida Macedo e Oiram Santos, e "Chê Florência", de Oiram Santos.


Em 1972, filmou seu terceiro filme, "A morte não marca tempo", tendo como música de abertura a "Balada da solidão", parceria com Pereira Dias. O filme foi lançado em abril do ano seguinte.


Em 1973, lançou, pela Continental, o LP "Isto é integração" no qual interpretou obras de sua autoria como "Minha biografia", "Isto é integração", com Pereira Dias, "Prece", com Jaime Caetano Braun,"Carancho", com Zequinha Silva, "Volta Benzinho", com Sonia Maria, e "Berço saudoso", com Paulo Lima, além de "Pago santo" e "Herança", de Telmo de Lima Freitas, "Uma Cruz em cada mão", de Luiz Machado e Celina Paiva, e "Mensagem de artista", de Bruno Neher e Deroi Marques.


José Mendes faleceu em 15 de fevereiro de 1974, no auge do sucesso, quando a camionete Veraneio na qual viajava com mais três pessoas, voltando do show em um circo na cidade de Pelotas, colidiu de frente com um ônibus na altura de Porto Novo na rodovia Rio Grande-Pelotas.

Urna com os restos mortais de José Mendes em seu Memorial na cidade de Esmeralda-RS. Foto Mateus Rosa



Nesse ano, foi editado o LP "Adeus Pampa querido", uma cópia do seu primeiro disco "Passeando de pago em pago" com as substituições das músicas "Passeando de pago em pago", por "Adeus Pampa querido", versão sua, para música de F. Canaro, M. Mores e Pelay, e "Excursão catarinense", substituída pela "Balada da solidão".


Em 1979, suas músicas "Carancho" e "Baile de Campanha" foram incluídas no LP "Gauchíssimo - Vol. 4", da Musicolor/Continental, que contou com participações de diversos artistas gaúchos entre os quais, Os Milongueiros, Gildo de Freitas, e Berenice Azambuja.


Em 2002, foi homenageado com a publicação do livro ""Pára, Pedro - José Mendes - Vida e obra", de Ajadil Costa.


Nesse livro, o autor afirma que: "Passados quase 30 anos é firme a devoção ao mito José Mendes. Existem hoje diversos louvores em todo o Rio Grande, em sua lembrança: nome de ruas em diversas cidades espalhadas pelo Estado. Homenagens em diversos programas de rádio e festividades em muitas cidades exaltando sua memória."


Em 2004, em sua homenagem, foi feita a cavalgada "José Mendes de volta a querência", uma iniciativa da Prefeitura Municipal de Esmeralda e da Universidade de Caxias do Sul, com coordenação de Nilson Hoffmann. A cavalgada destinou-se a transladar os restos mortais do cantor e compositor enterrado em Porto Alegre, para a cidade de Santa Tereza, seu berço natal.


Em 2006, o "Memorial José Mendes", localizado no município de Esmeralda, foi transformado em patrimônio cultural do Estado do Rio Grande do Sul. 

Fonte: Letras.com.br



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